sábado, 5 de maio de 2018

Pintura de pichador polêmico é vandalizada em Porto Alegre

Artes

Grafite que retratava figura decapitada semelhante a Jesus amanheceu apagado depois de críticas de religiosos
Após uma campanha nas redes sociais promovida por um grupo religioso contra uma pintura no muro do instituto cultural Goethe-Institut, em Porto Alegre, o desenho amanheceu vandalizado na última terça-feira (1). O grafite foi pichado cobrindo totalmente o rosto que lembrava a representação de Jesus Cristo, cuja cabeça estava retratada em uma bandeja. Também foram pichados os dizeres “ele ressuscitou“. Nesta quarta-feira (2), uma nova pichação com tinta azul, por cima da anterior, foi feita no local com os dizeres “ai, meu deuso“. Não se sabe quem é o autor das diferentes pichações que cobriram a figura. O painel faz parte da exposição “Pixo/Grafite: realidades paralelas” com obras dos artistas Amaro Abreu, de Porto Alegre, e Rafael Augustaitiz, de São Paulo.
A imagem apagada é de autoria do paulistano, conhecido por suas polêmicas. Em 2008, ele pichou uma instalação da 28ª Bienal de São Paulo, em São Paulo. No mesmo ano, foi expulso da Faculdade de Belas Letras após pichar o prédio da instituição. Porém, na Bienal seguinte, de 2010, Augustaitiz foi convidado a expor seu trabalho.
Foi depois de um abaixo-assinado de repúdio promovido pelo Centro Dom Bosco, organização privada religiosa criada em 2017 no Rio de Janeiro, que o grafite foi pichado cobrindo o rosto da figura. No ano passado, o Centro Dom Bosco também promoveu ataques à exposição Queermuseu, do Santander, que acabou fechada. Defendendo a criação de um “estado católico”, o grupo já processou os comediantes do Porta dos Fundos.
Pichação divulgada pelo Centro Dom Bosco, que organizou abaixo-assinado contra o grafite 
O grupo não informa número de telefone na sua página na internet. Procurado por e-mail, o diretor do centro, Bruno Mendes, não respondeu até o fechamento desta matéria. No seu perfil pessoal do Facebook, porém, ele comemorou o vandalismo. “O artista de Porto Alegre que apagou o ‘pantocrator demoníaco’ e escreveu ‘Ele ressuscitou’ fez mais pela honra da Santa Igreja que 60 anos de haters com roupagem modernista ou sedevacante.”
O Dom Bosco alega que o grafite de Augustaitiz é um crime de vilipêndio previsto no artigo 208, do Código Penal, que fala . A lei, porém, fala sobre “vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”. Não é o caso do grafite que, apesar de remeter à representação de Cristo, não é uma escultura ou quadro mantido no interior de uma igreja, por exemplo.

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