sábado, 10 de novembro de 2018

Grafite x pichação: qual a diferença?

  Existe uma linha tênue que separa o grafite da pichação, e a pichação do vandalismo.       Reconhecer a diferença entre essas formas de comunicação urbana – tão intimamente relacionadas ao longo da história – pode ser a chave que faltava para envolver os alunos em uma série de atividades relacionadas ao tema: oficinas, debates, excursões, testes de conhecimento.
  A origem da pichação remonta ao final dos anos 1960, período da contracultura e das revoluções estudantis que tomaram de assalto a cidade de Paris, na França. A maneira encontrada pelos jovens de protestar contra o governo se deu por meio da escrita nos muros dos prédios públicos.
  Nos anos 1970, a pichação chegou à cidade da Pensilvânia, a mais populosa do estado norte-americano da Filadélfia, sendo adotada por gangues de rua para demarcar território, reforçar filiações e intimidar as gangues rivais.
  Passados mais de 40 anos desde as primeiras manifestações do gênero, hoje podemos compreender que a pichação é fruto da necessidade dos jovens de deixar sua marca na epiderme da cidade. Desde sempre, o desafio foi um só: alcançar projeção.
  Na regra da pichação, vence aquele que conseguir inscrever a sua tag (assinatura), o maior número de vezes, onde todos possam vê-la. Quanto maior o número de assinaturas, e mais alto elas estiverem, maior é o prestígio de seu autor.
  Pichadores se tornam vândalos quando inscrevem suas tags – geralmente sem autorização – em propriedades públicas, privadas e, em casos extremos, em prédios/espaços tombados pelo Patrimônio Histórico e Cultural.
  Um detalhe que não podemos perder de vista nessa história: mesmo condenável, a ação dos pichadores merece ser discutida. Ela nos permite debater noções de identidade, pertencimento, protesto e transgressão, e nos ajuda a compreender o que pensam da sociedade em que vivem.
  A essa altura você deve estar se perguntando: e o grafite, onde entra nessa história? O que difere o grafiteiro do pichador? Em linhas gerais, o grafiteiro é um ex-pichador que soube dar à tinta spray um propósito profissional.
  Cientes de que a pichação não os levaria muito longe, outra turma resolveu deixar de lado a pichação, arregaçar as mangas e se lançar em um novo desafio: aprimorar o conhecimento. Aprender novas técnicas de escrita, desenho, pintura e estética com o objetivo de ampliar os horizontes profissionais.
  Grafite: a linguagem dos jovens
  Das aberturas de novela às propagandas de TV; dos videoclipes aos videogames; dos vagões de trem aos aviões comerciais. Olhe ao redor e comprove: o grafite está por toda parte. E quando o assunto diz respeito aos jovens, ele exerce um papel fundamental na comunicação com esse segmento.
  As indústrias da moda e da decoração, por exemplo, descobriram esse filão não é de hoje. Empresários de grandes marcas contratam mão de obra de grafiteiros e artistas de rua para potencializar a imagem de seus produtos e serviços diante deles: os adolescentes.
  São roupas, acessórios, objetos de decoração e utilitários os mais variados. O grafite colore não apenas muros, fachadas e viadutos, mas também cadernos, mochilas, bonés, camisetas, pôsteres e o que mais pudermos imaginar. O grafite reflete um estilo de vida descolado, urbano, cosmopolita, global. Pensando assim, que jovem não gostaria de ter um grafite na parede de seu quarto?
  A internet teve, e ainda tem, um papel fundamental no processo de popularização do grafite e de reconhecimento de seus representantes. A rede mundial de computadores ajuda a romper fronteiras, aproximar culturas e propagar tudo aquilo que se refere à arte urbana: grafite, música, dança, letras de improviso, atitudes.
  Meninos e meninas sonham em se tornar grafiteiros, mas nunca pegaram numa tinta spray. Nas mãos, carregam – por enquanto – tablets e smartphones.
  Para o artista multimídia Bruno Bogossian, conhecido na cena carioca do grafite há 15 anos como BR, não restam dúvidas: “O grafite é a linguagem visual mais importante da primeira década do século XXI, e a que melhor se comunica com a juventude”.
  Mas, afinal, o que o grafite tem de tão especial assim? No Rio de Janeiro, ele é quase um reflexo da cidade que o acolhe. “O Rio é uma cidade alegre, cheia de curvas, festiva. E isso se reflete no tipo de arte que a gente faz nas ruas: colorida, alegre e com formas orgânicas”, diz BR.
  Para o artista, a diversidade do grafite carioca espelha a criatividade do nosso povo, reconhecido pelo “jeitinho brasileiro”. “A variedade de estilos, técnicas e temáticas é, sem dúvida, um reflexo dessa nossa cultura. O grafite foi chegando de mansinho até conquistar o seu lugar na paisagem da cidade.”
  Olhe ao seu redor e você possivelmente vai encontrar uma intervenção de arte urbana colorindo muros, fachadas, viadutos, empenas de prédio, postes e até mesmo o mobiliário urbano. Aos poucos, festejam os entusiastas, a cidade vem se transformando em uma galeria de arte a céu aberto.
  “O Rio é o paraíso mundial do grafite. Em que outra cidade no mundo é possível mandar uma arte e depois dar um mergulho no mar ou fazer uma trilha pela floresta?”, indagam os grafiteiros.

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