quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Pichação em BH

Moralismo ou liberdade de expressão? Preconceito ou puro machismo? Atitude conservadora, censura ou ofensa pessoal? Duas semanas após um grupo de grafiteiros deixar sua arte nos tapumes da Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, um dos painéis protetores do canteiro de obras é alvo de uma “intervenção” inesperada, que divide opiniões e não deixa ninguém indiferente. Com spray branco, uma pessoa não identificada cobriu com uma faixa os seios e o sexo da mulher criada, sobre a madeira, pela artista Patrícia Caetano (Pat Caetano). Sobre a pintura, a artista escreveu Respeita as Minas. 
Passando pelo local, o designer de interiores Guilherme Siqueira, de 25 anos, morador do Bairro Santa Maria, na Região Noroeste, fez questão de olhar bem de perto o painel. Para ele, o ato agressivo contra o trabalho da artista não passa de conservadorismo. “Que bobagem que fizeram! Os corpos do homem e da mulher são livres, não há necessidade de cobrir o sexo desta forma, ainda mais numa pintura”, afirmou Guilherme. 

Com a exposição da obra do artista norte-americano Jean-Michel Basquiat (1960-1988) em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), muita gente aproveitou para ver ou rever as 54 obras integrantes do Mural Liberdade. Moradora do bairro São Benedito, em Santa Luzia, na Grande BH, a estudante de psicologia Ana Caroline de Souza, de 24, fez uma leitura bem diferente, que passa pelo machismo. 

“O mundo do grafite ainda é dominado pelo homens, há muito machismo. Assim, muitos não concordam com a presença de uma mulher neste mural, que ganha, assim, muita visibilidade”, disse Ana Caroline. Para a estudante, “a frase da Pat Caetano é no sentido ‘Respeita as Minas grafiteiras’. E aí alguém, numa atitude preconceituosa contra a mulher, deu o seu recado diretamente para ela”. 

Ana Caroline contou que acompanhou o trabalho dos grafiteiros em torno do espaço público e achou sensacional a ideia, certa de que os murais dialogam com a exposição de Basquiat, a qual já viu duas vezes. Ao lado, a amiga Taline Cristina Souza, moradora do Bairro Vitória, na Região Nordeste, concordou. “Infelizmente, há muito machismo. Mas não sou grafiteira, não”, disse a jovem. Para Ana Caroline e Taline, a intervenção anônima na obra não é apenas conservadorismo e sim um ato contra as mulheres grafiteiras (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)p

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